quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entrevista a Waris Dirie

Quando e como você percebeu que a prática da circuncisão não acontecia com todas as mulheres? Como você se sentiu?

Durante o tempo em que passei na Inglaterra, percebi que nem todas as mulheres eram mutiladas. Fiquei chocada e aliviada, porque sempre soube que a mutilação feminina era errada. Fiquei aliviada por saber que havia sociedades onde as mulheres não eram mutiladas.

Quais são alguns dos problemas de saúde que as mulheres mutiladas passam?

As consequências físicas são dor crônica, infecções, problemas para urinar e durante a menstruação, infertilidade e, claro, complicações durante a gravidez e parto. As consequências mentais são mais difíceis de listar, mas acredito que é óbvio que qualquer criança que passou por essa prática cruel ficou emocionalmente traumatizada e vai sofrer pelo resto da vida.

Quando você decidiu se dedicar à luta contra esta prática? 

Eu sabia que um dia eu iria lutar contra essa crueldade, desde que ela aconteceu comigo. Claro que ser famosa e bem-sucedida como modelo me deu uma grande plataforma e, portanto, oportunidade de falar sobre a mutilação genital feminina e ser ouvida.

O título como embaixadora da ONU ajudou na sua luta contra a mutilação feminina?

Claro que foi uma grande honra ser nomeada como embaixadora da ONU. Além disso, foi um importante reconhecimento do problema da mutilação em todo o mundo. Mas, em termos de mudanças práticas, há muitos passos que dei que foram mais importantes do que o título de embaixadora. Hoje, todas as minhas atividades e projetos são organizados pela minha própria organização.

Existem países fora do continente africano com registros de mutilação feminina?

Sim, infelizmente, a mutilação é um problema global. Com a imigração, a circuncisão se espalhou por todo o mundo. Comunidades de imigrantes por toda a Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e, até mesmo, no Brasil continuam praticando a mutilação feminina. Em 2003 e 2004, pesquisei junto com a equipe do Desert Flower a taxa de predomínio da MGF nos países europeus. Mais de 500 mil meninas e mulheres na Europa foram e são afetadas pela circuncisão. Nós apresentamos os resultados para o Conselho da União Europeia, em Bruxelas. Muitos países europeus estreitaram suas leis após a apresentação.

Como foi a experiência de lançar e divulgar o filme "A Flor do Deserto"?

Foi difícil para mim ver minha própria infância, minha própria família em uma tela de cinema. Mas precisei concordar em fazer esse filme, porque sabia que atingiria ainda mais pessoas do que o livro - e foi isso que aconteceu. Muitas pessoas me escrevem e-mails dizendo que viram o filme e que ficaram comovidas com a minha história.

Mesmo tendo apenas 5 anos quando sofreu a mutilação genital feminina, você ainda se lembra daquele dia? Existe uma idade específica para o procedimento ser feito?

Claro que eu me lembro, foi o dia mais horrível da minha vida e eu nunca vou esquecê-lo. A idade em que a mutilação é realizada difere muito de país para país e, até mesmo, entre diferentes comunidades. Na Indonésia, as meninas são mutiladas ainda recém-nascidas. Na Somália, as meninas sofrem essa prática geralmente entre 3 e 5 anos. No Quênia, as adolescentes são mutiladas antes de chegarem à idade ideal de casamento.

O que te levou a fugir de casa aos 13 anos pelo deserto da Somália?

Eu fugi quando meu pai me vendeu para um homem velho para me casar com ele. Eu sabia que qualquer coisa que acontecesse comigo naquele deserto nunca seria pior do que ficar com aquele homem e viver minha vida com ele no deserto. Mas foi extremamente difícil deixar minha família para trás.

Desde o início da sua jornada contra a MGF, o mundo viu uma diminuição no número de procedimentos por ano?

Sim, os números diminuíram em muitos países, mas eles ainda são muito altos. Eu não estarei satisfeita até que essa prática seja erradicada completamente, até que nenhuma garota desse planeta não esteja ameaçada pela mutilação.


Feito por Ângela Almeida 12ºC nº5

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